Igreja Matriz de São João Batista
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A Igreja Matriz de São João Batista

A formação inicial dos povoados mineiros tinha forte presença da Igreja e do clero, que aliados à aristocracia rural, impunham o tradicionalismo dos costumes e conduziam a governança dos vilarejos. As primeiras atividades religiosas de Itamogi aconteciam em um pequeno rancho de sapê, substituído, anos depois, por uma capela onde ocorreram as primeiras celebrações de casamentos e batizados, datados no ano de 1878.

A construção de uma capela aproximava as pessoas, que ali se reuniam para acompanhar as missas, novenas, terços e festividades. A partir dela, casas eram construídas, novos moradores chegavam e os povoados iam tomando forma. A Capela de São João Batista situava-se próximo do local onde hoje temos a Praça da Matriz, e foi a partir dali que Itamogi cresceu.

Capela de São João Batista / Foto: Grupo Facebook Nossa Itamogi
Imagem de São João Batista / Foto: Marco Aurélio Ferreira

São João Batista é um dos santos mais importantes da Igreja Católica. Conhecido popularmente como “santo festeiro”, é considerado o santo mais próximo de Jesus Cristo, sendo o responsável pelo seu batismo no Rio Jordão. Batista é “aquele que batiza”, e ele assim foi nomeado, devido a sua fé e devoção ao ritual do batismo. Seu dia é 24 de junho. É o único santo onde a liturgia lembra a data do seu nascimento, e não de sua morte.

Em 1905, iniciou-se na então Posses de Monte Santo, o planejamento para a edificação da Igreja Matriz de São João Batista, obra que foi autorizada pelo Bispado através da intervenção de José Furtado de Medeiros e do Cel. Lucas Caetano Vasco, que lideraram o planejamento da construção. 

Em 1906 a Igreja foi fundada, porém as obras foram interrompidas por sete anos, sendo retomadas em 1913, sob a coordenação de Zacharias Furtado de Medeiros, João Roberto de Medeiros e Antônio Esteves de Medeiros, filhos de José Furtado de Medeiros, que assumiram a responsabilidade de concluir a obra iniciada pelo pai. Entre problemas econômicos e divergências na comissão que liderava a estruturação da obra, a polêmica mais conhecida é a discordância sobre a posição da Igreja. Uns queriam que Igreja tivesse o mesmo posicionamento da antiga capela, com face para o lado norte da cidade. Outros porém, defendiam que a frente da nova Igreja fosse voltada para a Estação da Mogiana, onde chegavam os trens e visitantes. Depois de muita discussão, venceu a segunda opção.

Naquela época era muito comum que a comunidade se unisse nas colheitas, festividades e na construção dos templos. Tudo era feito de forma colaborativa, tendo participação ativa da população, com o trabalho e a oferta de materiais. Os tijolos para construção da Igreja foram doados por Domingos Martins, e, finalmente, em 1922 a primeira parte da obra foi concluída. Posteriormente, em 1926, a Igreja passou por uma ampliação, e nesse momento foi inaugurado o altar em mármore de Carrara, executado por Alberto Siderg na marmoraria São João de Arary.

Altar da Igreja Matriz / Foto: Érica Cardeal
Interior da Igreja Matriz / Foto: Dario Barbosa

Ainda faltavam alguns elementos importantes. A imagem, em mármore, de São João Batista, foi colocada no pedestal, segundo relatos, no ano de 1940. Durante sua montagem, houve dificuldade na finalização da escultura por conta do braço erguido e do dedo apontado para o alto, e por isso, foi contratado um escultor da cidade de São Paulo, para terminar a obra. 

Em 1953, ocorreu uma reforma para a troca dos forros por lajes, e para a execução da pintura do seu interior, que ficou a cargo do pintor italiano Antônio Zamperini. Logo em seguida, o relógio foi instalado.

O doador do relógio foi Aureliano Olímpio de Medeiros. Conta a história popular que Aureliano passou por um período doente e acamado, necessitando tomar remédios em horários pontuais. Naquela época, somente os fazendeiros mais abastados possuíam relógios, e em decorrência de seu estado de saúde, Aureliano fez a intenção de doar o relógio para ser instalado na Igreja Matriz, para que todos pudessem dar remédio aos seus doentes nas horas corretas.

Somente alguns anos depois, em 1957, foi feito o calçamento do jardim da praça, que imita os desenhos da calçada da Praia de Copacabana e em 1963 é concluído a pavimentação das ruas do entorno da praça com paralelepípedos.

Praça Matriz década de 60 / Foto: Grupo Facebook Nossa Itamogi
Praça Matriz década de 80 / Foto: Grupo Facebook Nossa Itamogi

“O jardim da Praça da Matriz, era verdadeiramente um jardim na concepção da palavra. Era um dos mais bonitos da região […] Tinham muitos ciprestes que foram com muita paciência e competência, transformados em figuras de bichos, como elefante, pássaros, girafa e até num aeroplano. A grama sempre foi bem tratada, era aguada constantemente, muito verde e bem aparada. Foi palco para muita gente ‘bater’ umas fotografias, que eram muito comum. Era nosso cartão postal. Naquele tempo havia muito respeito pelo bem público. O povo não pisava na grama, não jogava papéis ou outros objetos. Havia flores em abundância, que exalavam perfume suave que contagiava o ambiente.” (SANTOS; JOSÉ BARBOSA DOS, 2003, pág. 56)

A Igreja Matriz de São João Batista ainda é o cartão postal de Itamogi. Infelizmente mudanças ocorreram durante os anos. Algumas pequenas reformas na Igreja e outras intervenções maiores nos canteiros da praça, que hoje, já não são mais verdes como antes. É importante que os elementos históricos sejam mantidos e preservados. Cabe a nós, cidadãos, cuidar e fiscalizar. Valorizar esses elementos é valorizar nossa história e identidade.

Érica Cardeal

Graduada em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda, aprendiz da vida, apaixonada por Itamogi e idealizadora do projeto Itamogi é legal.

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8 comentários

  1. Luis Frederico diz:

    Excelente trabalho Érica. Preservar a história da arquitetura e urbanismo da cidade deveria ser exercido com mais frequência pelas cidades. Parabéns pelo trabalho que vem desenvolvendo.

  2. Silvianna Delari diz:

    Parabéns pela iniciativa!!!!! Muito importante mantermos vivas as lembranças e histórias da nossa querida Itamogi! ❤

    1. Sil, querida, obrigada!

  3. Parabéns, Érica! Muito importante conhecermos essas histórias e preservarmos esses patrimônios. Muito legal a história da Igreja Matriz, eu amei a história do relógio também! O belo jardim da praça ainda está na minha memória. Era, realmente, muito bonito!

    1. Gra, obrigada pelas palavras e pelo incentivo!

  4. Fernando Jr. diz:

    Parabéns pelo trabalho! Se permite, algumas considerações: o lado frontal em que a igreja deveria ser construída foi definido pelo bispado de Guaxupé, que por orientação da antiga Comissão de Arte e Arquitetura Sacra da Santa Sé, definiam a fronte de uma matriz deveria estar diante do nascente do sol, enquanto seu altar mor, terminaria para o poente, ou seja, a parte da frente da igreja deveria estar ao oriente, enquanto suas costas, ao ocidente. Outro ponto contado, mas não registrado é que a planta da matriz veio de Roma, porém foi perdida devido ao descuido dos padres que vieram para a cidade após a morte do Cônego João Alberto Deleglise, que diga-se de passagem deixou sua marca como francês, perpetuando a imagem de Santa Terezinha do Menino Jesus, que era francesa, bem como a belíssima imagem de Nossa Senhora de Lourdes e Santa Bernadete de Soubirous. Tais imagens foram adquiridas junto à Casa do Clero, uma das mais nobres lojas de artigos religiosos do Brasil, localizada no Rio de Janeiro, bem como a imagem em roca de Nossa Senhora das Dores. Por fim, salientamos as obras do escultor italiano e radicado no Brasil Marino del Favero, como os anjos da capela do Santíssimo, o Senhor dos Passos e as imagens de Santo Antônio e São Pedro, ricamente talhadas em madeiras, cobertas com uma fina camada em gesso e pintadas a mão.

    1. Olá Fernando! Infelizmente não temos muitos registros da história de nossa cidade. Na época em que fazia minhas pesquisas para escrever este post, procurei pelos livros da Igreja, mas fui informada que estavam temporariamente em Guaxupé e não tinham previsão de quando voltariam. Fiquei muito feliz com seu comentário e com as ricas informações que acrescentou, obrigada!

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