História

As Congadas em Itamogi desde sua origem

As congadas, congado ou congo são uma importante festa popular do folclore brasileiro, que apresenta elementos culturais e religiosos, que envolvem o canto, dança, teatro e espiritualidade cristã e de matriz africana. Segundo o historiador Jeremias Brasileiro, o nome vem do termo congo, que significa congar, dançar. “É uma memória que veio com os escravizados do antigo Reino do Congo, na África Central, com a essência de festejar algum momento. Naquela época era comum eles celebrarem através da dança o nascimento de um príncipe, uma boa colheita ou visitas recebidas”.

Os primeiros registros de Congadas no Brasil são do período colonial. Acredita-se que, a primeira coroação de um rei Congo, feita por uma irmandade religiosa, ocorreu em Recife no século XVI e Chico Rei, considerado o primeiro rei Congo de Minas Gerais, teria sido coroado no ano de 1717. 

A lenda de Chico Rei
Galanga era um rei africano, do Reino do Congo, que foi feito escravo junto com seu povo quando comerciantes portugueses traficantes de escravos invadiram seu reino. Escravizados, foram trazidos ao Brasil para trabalharem na mineração. Durante a viagem, houve uma grande tempestade e os marujos do navio, para acalmar a ira dos deuses e cessar o temporal, atiraram no oceano a rainha Djalô e a princesa Itulo, mulher e filha do rei Galanga. Chegando no Brasil, Galanga foi batizado com um nome português, e passou a ser chamado de Francisco, recebendo o apelido de Chico.
Durante seu trabalho em uma mina em Vila Rica, Chico juntou o ouro que se acumulava nas suas unhas e em seus cabelos, até que conseguiu o suficiente para comprar sua carta de alforria. Livre, continuou trabalhando, comprou a Mina da Encardideira e conquistou a alforria de centenas de escravos, reconstruindo sua tribo e consagrando-se em terras mineiras como Chico Rei. No dia de Nossa Senhora do Rosário, ocorriam as solenidades e comemorações, onde Chico, coroado como rei, aparecia em ricas indumentárias, seguido por músicos e dançarinos, ao som de caxambus, pandeiros, marimbas e ganzás.

Imagem atribuída a Chico Rei / Reprodução internet

As irmandades eram instituições formadas por leigos, sem envolvimento com o catolicismo, que permitiam aos seus adeptos desenvolver uma religiosidade “peculiar”. Os negros libertos tiveram nas irmandades a possibilidade de construir sua sociabilidade e sua identidade. Através da consagração de imagens padroeiras, aceitavam a religião dominante e incorporavam elementos, rituais e símbolos culturais que trouxeram consigo da África. As Congadas foram uma fonte de fé e esperança para o povo negro.

Nossa Senhora do Rosário era tida como santa padroeira dos escravos e em várias regiões do Brasil eram encontradas as Irmandades de Nossa Senhora do Rosário. Neste momento também era possível observar o sincretismo religioso, onde entidades dos cultos africanos coexistiam com santos do catolicismo, e assim os negros expressavam sua fé e a igreja, autoridades e seus senhores aceitavam as festividades.

As Congadas acontecem em várias regiões do país, porém são mais predominantes em Minas Gerais, e recebem características específicas em cada localidade, mas em geral são marcadas por danças, cantos e músicas, e costumam acontecer em forma de procissão ou desfile.

Terno de Congo – Itamogi década de 60 / Foto: Grupo Facebook Nossa Itamogi
Terno de Congo – Itamogi década de 40 / Foto: Grupo Facebook Nossa Itamogi

Em Itamogi as Congadas tiveram suas primeiras manifestações em 1880, muito provavelmente trazidas por negros libertos e escravos vindos da região de Ouro Preto para trabalhar na mineração, e posteriormente, nas lavouras de café. Em alguns anos, a festa já havia se consolidado como uma celebração tradicional do município.

O festejo centenário acontece, primeiramente, no dia 13 de dezembro, dia de Santa Luzia. Após a missa, onde acontece a “benção dos olhos”, são hasteadas as bandeiras com as sete imagens do Rosário e de Nossa Senhora Aparecida, rito que marca o início das festividades. Depois, no período entre 26 e 29 de dezembro, todas as noites, as ruas são tomadas pelos desfiles dos ternos de São Benedito (moçambique), Santa Catarina (moçambique), Santa Efigênia (catupé), Santa Luzia (moçambique), Santa Luzia (congo) e Nossa Senhora do Rosário (congo). São dias de fé e devoção, onde todos saem às ruas para prestigiar os ternos, que levam música, encanto e alegria aos itamogienses e visitantes.

Bandeiras hasteadas sobre terno de Moçambique – 2019 / Foto: FT Drones

E esse batuque senhor?
Roda em volta dessa fogueira
Mostra teu brado
Tua garra
E o quanto és guerreiro
Choras com teus guizos
Bate forte na manguara
E no teu canto
Bota a bravura no teu choro.
Veste-se de branco
ó pra ficar mais bonito
Reza com fé,
Pede com força,
Canta teu hino,
Com teu suor bate no peito
E pede licença com teu grito.

(Patrícia de Andrade, maio de 2012)

Érica Cardeal

Graduada em Comunicação Social - Publicidade e Propaganda, aprendiz da vida, apaixonada por Itamogi e idealizadora do projeto Itamogi é legal.

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6 comentários

  1. Maria Aparecida de Paiva Loguercii diz:

    Amei…👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾👏🏾

  2. Éderson Lima diz:

    Muito importante este trabalho de mostrar as origens de nossa cultura.
    Parabéns!!!

    1. Obrigada Ederson! Nossa cultura é nossa identidade, muito importante conhecê-la e preservá-la.

  3. Dani Almeida diz:

    Parabéns pela iniciativa e por dar um “banho” de cultura e conhecimento sobre essa festividade recheada de devoção e alegria!

    1. Muito obrigada Dani!

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